terça-feira, 24 de julho de 2007

"Queria viver euforia pela manhã
à noite ser tédio
ver a beleza com o cheiro
da tua tristeza
pasmar
ante anteparos...
cálidos desesperos
que construí
pra te ter a vida."

sábado, 7 de julho de 2007

Zé Raimundo, o Bola


Zé Raimundo, o Bola.

E pensando a vida sobre o que se fez, pego-me lembrando sobre vários de meus amigos e sobre o que fizemos a respeito de nós. E sobre Zé Raimundo, o Bola, em específico.
Parece que somos personagens de um filme de nossas vidas ou de nós mesmos.
De todos nós da turma do apartamento do Arlindo, como Érico nos cunhou, ele se tornou amigo de um jeito especial. Uma extensão que precisa de seus novelos pra se entender.
Naquela época lá pelos fins dos anos 80, ele era amigo mais presente de Elmo, irmão do Érico; estavam sempre bolando alguma coisa pra se divertir. A gente gostava muito do Elmo porque era legal, antenado e começava a pintar uns quadros bacanas - transava bem arte e artesanato. Aliás, creio que devia continuar desenvolvendo a verve da criação. Além disso, o cara namorava a Lulu, irmã do amigão Gil e que era a maior simpatia. Precisava mais, então!
Mas o que queria dizer mesmo, é que eles se curtiam numa amizade boa. Como disse, conheci o Zé porque era amigo do Érico e freqüentava a casa deles, assim fiquei amigo de Elmo e de seus amigos, ou os que ele levava à sua casa, o Zé. Pronto.
Cara legal.
Eles viviam o mundo deles por serem mais novos, acho. Bem, a gente o nosso cheio de buscas sonoras quase estéticas, meio atrapalhadas e tudo isso bem sorvido e consumido em bebidas e altos papos que iam madrugada a dentro; e eu não sei bem como os dois resolviam o dia-a-dia deles, mas à noite sempre nos encontrávamos invariavelmente no Taberna Sete, onde Zé virou gerente. Um bar legal de boa música, a maioria delas gravadas em K7 por Érico para nosso deleite e que nos recebeu bem não sei quantas vezes noite a dentro, madrugadas afora, muitas vezes dias de nossas diabruras. Mas lá o Zé, mantendo-se firme. Mais que gerente, defendendo nossa pele dura, afinal é melhor ser amigo que ser rei.
Mas o problema da vida é quando o caldo entorna. Aí a vida de qualquer um vira um inferno. Menos a do Zé, pois o AVC que o acometeu e que lhe trouxe várias limitações físicas e profissionais a ponto de contribuir para perder o emprego, não foi capaz aniquilá-lo, apesar do caos na vida revirada de uma hora pra outra. Manteve-se firme, à tona.
Poderia chamar aquilo de black out. A doença. O desespero. A distância de muitos... O frio, o medo. E isso te corta e não consegues mais caminhar, trabalhar nem no pensamento; ceifa-te a moral. Se consegue olhar a tua volta, o que vês é cair, tropeçar; é desaprender qualquer direção de rua, beco, viela e desespero. É uma rotação que ninguém pode criticar.
Mas se há a dor, ele consegue ladear lutando. Perder não é uma palavra possível porque só o que há fazer é seguir, uma grande vitória para quem quer continuar andando em pé. Assim deve ter pensado o Zé.
A partir de então, viu-se numa vida de privação. Faltava-lhe de comer, remédios, dinheiro e várias pessoas que ficaram pelo caminho, além de outras mazelas adquiridas no meio da vida. Mas, ao longo do tempo, por ter sido sempre decente, companheiro, nunca lhe faltou carinho, ajuda dos mais próximos e até voltou a trabalhar por breves momentos. Isso porque jamais se contentou só com a ajuda necessária dos amigos, queria mesmo era trabalhar.
Uma pessoa dessa dignidade e ainda assim capaz de causar surpresa. Pois é. Apesar da privação, dificuldades de locomoção e dinheiro quase nenhum, o rapaz ainda encontra forças de não sei onde e lidera visitas a empresas ou a quem possa para angariar doações de cestas básicas, roupas e que mais se puder para entidades de pessoas mais carentes. Consegue um montão e minimiza o sofrimento de uma porção de gente.
Assim encontrei Zé na minha última visita que lhe fiz e me surpreendi. É impressionante e comovente sua grandeza. E nesse mundo tem tanta gente que nem ajuda, só tenta derrubar. Só não ao Zé.

Minha São Luís


"Minha São Luís ".
Achei relevante o serviço prestado a nossa memória por uma crônica que recebi por e-mail. Afinal, é bom entender tudo sobre Nova Iorque, Londres ou Paris. Saber de seus encantos, mas sem tirar os pés do chão; é bom sentir o cheiro da nossa comida e jamais perdermos os laços pessoais e com nossa cidade. Por isso, a memória vem-me e vou tentar colaborar com o melhor espírito da crônica:
Além de ser a cerveja mais barata, o Rui sempre foi o nosso melhor "dono-de-bar" com seu atendimento inigualável: cerveja gelada comprada na ficha e servida por ele mesmo e todo seu mau humor: sem camisa e com a calça amarrada com cordão ou cinto despedaçado, que deixava o cós da cueca samba-canção branca e muito usada toda de fora.
Ser Ludovicense, pois, é ter vivido ou ter conhecimento de nomes como Taipa, Etc-e-Tal, Bar do Rosa, Ponto de Fuga na Madre Deus, Marçal, PH, Risco de Vida e suas noitadas gloriosas, John Sebastian Bar, Bar da Meninas (sic)... não podem faltar. Que saudades! Taberna Sete, Deusimar nos bons tempos. Dava de tudo. Eu disse dava e não é exagero! Bares de muitas vidas.
Evidentemente, conhecer ou quase morar no Bar do Léo, mergulhando no maior manancial musical da Ilha; saber que restaurante era Hibiscos, peixada era na Adélia no BF e comer caça tinha que ser no Zebrão. É saber que Neguinho, Cabecinha, Bimbinha e Beato são craques e goleadores imemoráveis que ainda povoam nosso imaginário e que Bode Gregório é o MAC (Maranhão Atlético Clube) time do Zeca Baleiro. Conhecer expressões como Samará e Maremoto e saber que se referem a clássicos do nosso futebol. Hein, hein! Hum... hum! O que é pequeno? Te dou-lhe, viu!
Conhecer as belas toadas de Coxinho e as de Humberto; já viu ou andou de bonde nem que sejam os que haviam na UEMA parados: só pra dar um passeio com sua família. Sabe que UEMA era FESM e UFMA era FUM. Sabe o que aconteceu em São Luís em 1979 e a conseqüência imediata disso - o passe escolar, nossa genuína quase-moeda.
Já tomou sorvete na Elefantinho (de juçara e tapioca, claro); comprar roupa legal era na Manchete ou na Arpaso; já fez lanche na Lanchonete da Lobrás, ou no Ferro de Engomar. Lógico, também merendou no abrigo da Praça João Lisboa. Admitiu a palavra "lanche", mas prefere mesmo a merenda.
Chopp era tomado na caneca em qualquer um dos saudosos festivais de chopp e cuja caneca guardava-se, em casa, em cima da geladeira ou numa gloriosa estante na sala com muito orgulho.
Chique era freqüentar as festas no Lítero ou Jaguarema, mesmo que muitas vezes entrasse como penetra. Brincar no Carnaval era sair fantasiado de fofão, passando incógnito pelos amigos.
Onde estão os vendedores de quebra-queixo, raspadinho, refresco, pão-cheio, pirulito? Ainda bem que não acabaram com o cuscus Ideal!
Naturalmente, tem saudade da Rosa Mochel e só pro isso todo ano vai ao Maracanã saborear uma deliciosa juçara com camarão seco e/ou farinha no Festival da Juçara. Adora as letras do Josias Sobrinho e do envocado do César Teixeira. Ama a música Gabriela do Chico Maranhão mesmo que as rádios não a toquem mais, acho que por desconhecimento dos novos DJ's.
E quando vai embora por qualquer motivo, fica morrendo de saudade e sonha com camarão seco e guaraná Jesus. Sonha tudo em cor-de-rosa toda noite até saber que algum conterrâneo vai regressar e haja encomenda de camarão e guaraná Jesus. Depois, quando tudo isso está a sua mão, fica consumindo tudo aos pouquinhos para não acabar.
Sabe que temos nosso Molière e se ufana com o Aldo Leite. Gosta de empinar papagaio e lancear (lá vai...!). Sabe que chucho é uma deliciosa brincadeira da época de chuvas e não o marido da Xuxa. Gosta de comprar carro novo só pra poder ir à São José de Ribamar assistir a uma missa, "batizar o carro" e comer uns peixes-pedras bem fritinhos com farinha d'água e cerveja, e bem mais tarde almoçar no Restaurante Mar e Sol e, após a sesta, ficar se lembrando da loucura que muitos comentem na romaria de São Luís a Ribamar indo "de pés" (sic) Hein hein (a galera fica com cada bolhão nos pés ). Dizem que o santo gosta. Sádico

“No tênis eu perco até no par ou ímpar”


“No tênis eu perco até no par ou ímpar”

Antes de revelar uma atitude derrotista, essa frase, cunhada por Francisco durante o torneio SISTEC OPEN, ensina-nos muito sobre as virtudes de caráter que em todo momento estão sendo postas em seu limite no jogo de tênis e que deste certamente podemos extrapolar para a vida.
O tênis permite, sem dúvida, identificar e separar os verdadeiros campeões dos que preferem vencer a batalha de um ponto, não se importando tanto se para isso precisaram desconsiderar as regras, ou mesmo se aproveitaram da conveniência destas. Podem até vencer o jogo, mas não ganham a batalha da vida.
Esclareço melhor.
Durante a competição, Francisco teve seu jogo de primeira rodada não disputado por motivo de viagem de Marcelo, seu oponente. Poderia ali lhe ter aplicado o regulamento e vencido o jogo por W x O. Ao contrário disso, preferiu remarcar o jogo por várias vezes, sendo adiado sempre o embate por problemas de agenda.
Pois bem, no último agendamento, Marcelo não pode comparecer mais uma vez por motivos profissionais. Ocorre que os dois teriam que informar à organização do torneio o placar do jogo, considerando que não haveria mais tempo hábil para a realização da partida. Falando de seus celulares, Francisco saca com duas soluções para o problema e interpela Marcelo, sugerindo que poderiam resolver o jogo por meio de sorteio de moeda, ou seja, o cara-e-coroa. Conspiraram os deuses nesse jogo duríssimo e Marcelo revela bombasticamente que não dá para ser no cara-e-coroa porque ele não tinha ali nenhuma moeda. Então, Francisco com sua generosidade “smasha” definitivamente e propõe que o jogo seja resolvido no “par ou ímpar”. Depois de alguns momentos de hesitação, ambos concordam com o tipo de “match point sui-generis”, com a seguinte ressalva: como a disputa dar-se-ia por celular, certificaram-se de que tudo seria feito de forma honesta pelos dois. Fácil! Tudo resolvido!
Marcelo logo preferiu “par”. Ao nosso Francisco, assim, não sobrou alternativa aceitar o “impar”. Francisco então pergunta:
- Marcelo qual o teu palpite?
- Zero. E qual foi o teu?
Francisco responde:
- Eita diabo, perdi! Foi dois. No tênis eu perco até no “par ou impar”.
Pode ser engraçado, mas o episódio revela muito desse espírito campeão. Sempre lhe importou mais a disputa, afinal o torneio foi feito para isso. Vencer por W x O estava fora de cogitação.
Esse moço incorporou realmente o espírito esportivo, o sentido da coisa. Ou seja, do torneio. Muitos de nós nos aferroamos ao regulamento quando este nos traz uma vantagem. E nos sentimos confortáveis, afinal está escrito que quem não comparecer (não cumprir o disposto) perde o jogo e, principalmente, isso é importante se o oponente tiver melhor jogo que o nosso.
Não nos preocupamos com o crescimento propiciado pela disputa de uma partida mesmo que nosso rival tenha jogo mais desenvolvido; nem tampouco com a integração que essas oportunidades permitem, preferindo a frieza do resultado que só na aparência nos é favorável.
Sobretudo, essa disputa nos revela grandes valores que devem ser cultivados não só na quadra, mas em nossas ações do dia-a-dia. O respeito ao outro é fundamental para assegurar a dignidade de nossa existência, que deve ser alicerçada na firmeza de caráter demonstrada pela honestidade incondicional do ato deste rapaz.
Arrisco a dizer que Marcelo venceu o jogo, mas quem marcou os pontos foi Francisco, esse verdadeiro campeão.
Na mesma competição, Francisco ainda teve a oportunidade de aplicar mais dois W x O. Declinando da prerrogativa, jogou todas as partidas que foram vencidas por seus adversários. Aprendeu muitos golpes novos que trarão no futuro a evolução de seu jogo, mas ensinou muito mais com a grandiosidade de seu generoso gesto.