domingo, 28 de dezembro de 2008

CLUBE DO CHORO RECEBE CÉSAR TEIXEIRA

O Clube do Choro Recebe fechou com gáudios de ouro o ano de 2008 e recebeu mesmo o ícone da música, César Teixeira.
Em geral arredio a apresentações públicas, César Teixeira fez uma belíssima aparição, ontem (27) no bar Chico Canhoto. Cantou a inteligência de suas elevadas composições, conversou com a platéia, chamou-a para acompanhá-lo em alguns momentos e continuou dando suas alfinetadas naqueles que resolvem cruzar tortuosamente seu caminho, usando da malícia e deboche. Foi quase um escracho.
Mas o que realmente salta aos olhos, ouvidos e ao que sobrou da capacidade de reflexão, é a estatura da obra desse gênio da música e da poesia que, para além de maranhense, deveria ser mesmo do mundo.
Feche os olhos e, quando se houve sua música, é como se estivesse ouvindo Paulinho da Viola, Paulo César Pinheiro, Noel Rosa, ou Cole Porter. E inegável a riqueza melódica e da construção dos versos de suas letras. Só que as imagens e sentidos sugerem e nos levam às esquinas mais próximas a nossa casa, aos bares, aos torresmos regados a boas goladas de cerveja, às prostitutas, ao bate papo de aparente pouca conseqüência do dia-a-dia, à crítica das figuras do mando local. Fala da gente, mas sem o ranço do provincianismo. É um construtor de grande lirismo e merecia uma maior divulgação de sua obra. Ao que saiba, gravou somente um CD. É muito pouco para o registro da produção esmerada do artista. Seria animador se ele mesmo se permitisse maior divulgação e topasse novos projetos de discos.
O Clube do Choro do Maranhão está de parabéns, entre outras, pela noite de ontem que confirmou quanto importante é reunir e apresentar o trabalho de nossos melhores artistas da música. Feito maior ainda é aproximá-los; dessas conversas poderão surgir novas criações e belezas. Mas a verdade é que o show de César não sai da cabeça.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

CÉLIA MARIA


Aqui somos milhões de uns?
As cem pessoas que assistiram ao show de Célia Maria (19), no teatro Artur Azevedo, saíram maravilhadas pelo calor e limpeza da voz da nossa dama da canção.
Ouviu-se de tudo: samba-canção, samba, bossa nova e até balança pema, de Jorge Bem Jor, que, reconstruída na batida do reggae, ficou linda. Tudo para nos enternecer a alma. E, claro, teve lugar ainda lindas canções de César Teixeira e Joãozinho Ribeiro, a participação especial de Antônio Vieira e Léo Capiba. Aliás, quanta expressividade guarda esse moço que encanta na voz e no pandeiro. É uma beleza vê-lo no palco.
A mim, em especial, causou grande emoção a interpretação da cantora para a música Milhões de Uns. É impressionante o que Joãozinho conseguiu fazer nessa composição, cuja beleza poética é até mais forte que a denúncia social que a letra revela. Nela tudo é perfeito.
Mas havia algo de errado no show. Como pôde tanta beleza musical numa noite ter um público tão diminuto? O problema, com certeza, não está em Célia Maria, que distribui talento ao abrir a boca, mas no trabalho da produção do espetáculo. Entre outros afazeres, seu trabalho tem que ser o de divulgar, divulgar e divulgar em todas as mídias imagináveis para que mais pessoas conheçam essa verdadeira jóia. A oportunidade foi perdida.
Um outro senão do show deve ser observado. Acompanhada por bons músicos, no entanto, ficou a impressão de falta de ensaio e improviso ao espetáculo. Isso porque Celson Mendes inúmeras vezes controlou a entrada dos demais músicos com acenos das mãos. A direção musical, que acertou no repertório do show, ficou-nos devendo esse detalhe. A nós e à maravilhosa Célia Maria que merece mais.

Mais Marias: Ao final do show, perguntei ao secretário de cultura, Joãozinho Ribeiro, quando traria todas as nossas Marias à São Luís, referindo-me a sensacional jazzista maranhense, Tânia Maria que jamais se apresentou por aqui. Famosa no meio jazzístico mundial é desconhecida totalmente no meio musical maranhense. Respondeu-me que Tânia Maria virá pelas comerações do Ano da França no Brasil, em 2009. Estou de dedos cruzados aguandando a data.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A FALSA QUESTÃO: MAL NENHUM OU TODOS OS MALES?


O jornalista Ed Wilson publicou notícia em seu blog (vide meus blogs favoritos), queixando-se do silêncio de Flávio Dino no momento das bacias das almas do governo Jackson Lago. Isto porque, segundo o jornalista, Flávio teria sido o operador da defesa do governador e teria recebido como prêmio o apoio do governador a João Castelo na eleição para prefeito, em São Luís. Deveria, então, o deputado quebrar o silêncio em sinal de revolta e marchar com as demais ovelhas que desejam convencer a população de que os Sarney querem mesmo aplicar um golpe no governo que "mudaria" o Maranhão?
O golpe haveria caso os fatos fossem plantados, pressupondo-se uma maior capacidade do senador Sarney de influenciar a Justiça. Para quem já foi presidente da república, é aceitável o argumento de que tenha maior poder de fogo no ambiente dos tribunais. Mas o pecado capital aqui é, na verdade, a prática do ilícito da compra de voto na disputa política, logo de quem se esperava mudá-la.
Ao invés de golpe, exerce-se o estado de direito que todo democrata deveria fortalecê-lo, mesmo quando fazê-lo signifique ir de encontro aos seus próprios interesses ou de grupo.
Há de pensar-se o que seria pior: o som do silêncio de Flávio, que parece perturbar-lhe, ou o cacarejar de Dutra, MST e mais um caminhãozinho mixuruca, tipo Kia Motors, de esquerdistas satisfeitíssimos com seus cargos no governo Jackson e a defendê-lo nas ruas, coisa que seus advogados no processo não conseguiram e, por retirada, adotaram a tática de ganhar prazo; posição típica de que contra o indefensável só se resta procrastinar.
É licito pensar que a política no Maranhão só poderá avançar com extirpação das práticas conservadoras, açambarcadoras, podres, violentas e dos respectivos grupos que conduzem essas ações: sejam da patota do Sarney ou da corriola do Dr. Jackson.
Jamais deve-se tratar de escolher o mal menor. Pensar assim é dar continuidade a quase sete décadas de política do mandonismo e, ao que parece, o deputado Dutra, em seus discursos, se conforma bem a esse estilo de fazer política.
Espera-se de quem faz política de esquerda nesse estado, seja Flávio Dino ou qualquer outra figura política com alguma intenção propositiva, um repúdio total a toda e qualquer prática que favoreça a manutenção da política conservadora. Comprar voto inscreve-se claramente na tradição do mandonismo oligarca. O caso não é de mal nenhum ou todos os males.
Ao insistir no adesismo oportunista ao governo atual, perderá a esquerda a ocasião de qualificar-se como a possibilidade real de assumir o poder político em nosso estado esgarçado, pois, em algum lugar, a razão será chamada e os eleitores refletirão, ao cabo dessa sopa, sobre a indiferença de votar contra ou favor de Sarney ou Jackson, afinal cumprem a mesma agenda do poder político oligarca.
Quando esta hora chegar, quais partidos e políticos estarão organizando o povo e propondo uma nova forma de exercitar a política?

domingo, 7 de dezembro de 2008

ÓCULOS


Dedico à Érico, nesse dia de hoje tão pesaroso, a poesia produzida a quadro mãos numa noite de alegria.



curte o barato de teus óculos
na tua cara
que sem eles nada mais és
que morcego.

ao vestí-lo, já és o ridículo!
são teu anteparo,
tua mediação
com parte fundamental do mundo
e não vês
não te percebes lagartixa
de óculos
óculos!
os óculos, as máscaras...
eu os ponho pra ver vitrines
tiro para não compartilhar
a dor do garoto faminto
do cão vadio.

óculos, pessoas...
lembro do velho e do menino
de óculos
num e noutro o fim
as pessoas sem óculos
as que precisam de binóculos
da distância de vários graus
para perceber o que está ai

quebro os óculos
ando por ruas
que não foram feitas
não sabia que o cinza
pudesse ter tantas cores
distingo pessoas
e vejo a vida colorida
dentro de meu mundo
preto e branco
.


Erico Renato e Celijon

São Luís, 30 de novembro de 1990.

A NOITE DO PRÊMIO JOSÉ AUGUSTO MOCHEL


Na noite de sexta-feira (5), no salão do Grand São Luís Hotel, ocorreu a entrega do troféu JOSÉ AUGUSTO MOCHEL, na sua segunda edição.
O principal objetivo do prêmio é homenagear a vida política de militantes, lideranças de esquerda e entidades da sociedade civil que se dedicam à luta democrática, popular e socialista no Maranhão, como salienta o programa distribuído na apresentação do prêmio.
O troféu, instituído pela ação do mandato do deputado federal, Flávio Dino, (PC do B/Ma.), rende homenagem à vida e à militância política de José Augusto Mochel e vem fazendo, nesses dois anos, mais que simplesmente prestigiar a ação ativista de belas figuras humanas na política maranhense.
É também uma oportunidade para a reaproximação das pessoas, rever velhos companheiros de calejadas batalhas e proporciona um revigorante momento de reflexão, quando se ouvem os depoimentos dos laureados, ricos em experiência e determinação. São verdadeiros passivos políticos que se devem acumular para se enfrentar as muitas adversidades que se impõem no dia-a-dia da luta política.
Se fosse só por essa razão, já seria de grande relevância a criação do troféu. Mas, ao permitir que a memória política desses lutadores jamais seja perdida, acaba por garantir uma rota segura para o futuro na política, que leve em consideração a abnegação, o desprendimento, a firmeza de propósito e caráter, com certeza uma marca de todos os homenageados.
Esta é a vasta porta que se divisa e faz ligação entre o passado e o futuro e aponta caminhos para a construção da nova realidade da política de esquerda maranhense, hoje.
Em 2007, foram justamente celebrados: Neiva Moreira, João Francisco, o valoroso Manuel da Conceição, Antônio Campos, William Moreira Lima e a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos. Para a edição deste ano a homenagem chega em bom momento à deputada estadual Helena Barros Heluy, ao combativo e arguto jornalista Walter Rodrigues, à vereadora Lindalva Barros, ao ex-vereador Ananias Neto, à Associação de Saúde da Periferia e, postumamente, à saudosa líder comunista, Maria Aragão.
Por tudo que fizeram e ainda fazem, não custa seguir-lhes o exemplo.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

AINDA HOJE, OS 50 ANOS DA BOSSA NOVA*


Estamos comemorando, em 2008, os 50 anos da Bossa Nova. Sem se configurar num movimento em si, a bossa nova mudou o modo de se fazer música no Brasil e influenciou o mundo afora, depois da gravação do disco Chega de Saudade por Elizeth Cardoso, em meados de 1958.
Juntaram-se nela o melhor de nosso samba com um tanto do fraseado jazzístico e outras sonoridades mais para gerar uma música com toques de sofisticação e beleza totalmente inéditas por estas terras.
As dissonâncias de seus arranjos, o canto minimalista e a criação da batida perfeita de violão por João Gilberto, que estava àquela época obcecado em criar uma nova maneira de se expressar com o violão, reinventando desta forma o samba; além da influência da modernidade da música clássica de Villa-Lobos e Debussy, principalmente, sobre Tom Jobim, os temas do apartamento, da praia e do mar, característicos de sua primeira fase e que eram recorrentes nas composições de Vinícius de Moraes, Carlos Lira, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli e Marcos Valle.
É desse caldo cultural que emergiu a superação do estilo de música até então vigente: os sambas-canções. E haja “dor-de-cotovelo”, os amores desfeitos, ( Ninguém me ama, ninguém me quer...), temas preferidos dos compositores da turma do Vilarino. Músicas, aliás, também de grande beleza, mas que elegiam, não raro, temas de sofrimento, geralmente ambientados em boate e regados a enormes goladas de uísque. A música de boate cedeu espaço para o apartamento e o mar. Mudou, por assim dizer, a paisagem da música brasileira, tornando-se mais arejada e diurna.
Aquela geração gostava mesmo da luz e da praia e, assim, mandaram vestir os pijamas de uma só vez, Antonio Maria e Fernando Lobo (Ninguém Me Ama), Adelino Moreira (A Volta do Boêmio, Negue), Lupicínio Rodrigues (Vingança, Nervos de Aço) Nelson Gonçalves e a talentosíssima Dolores Duran de A Noite do Meu Bem.
No entanto, a bossa nova influenciou muito mais na vida social brasileira do que apenas a forma de compor canção. Efervesceu no mesmo compasso do desenvolvimento econômico com reflexo na vida política brasileira – eram os Anos JK e de criação da Brasília de Oscar Niemeyer. Foi e é um verdadeiro sucesso até hoje. Influenciou tanto que tudo que se respirava com ar de diferente, moderno era tachado de bossa nova.
Quando se fala da bossa nova, logo se pensa na Santa Trindade do gênero: Vinícius de Moraes, Tom Jobim e João Gilberto e todas as canções que já estão impregnadas no subconsciente dos apreciadores da boa música no mundo todo. Essa turma compunha demais. Mas não é o bastante para dá-se conta de toda a riqueza da produção musical daqueles anos de glória: não se podem deixar de fora personagens de raro talento como Luis Fernando Freire, o Lula Freire, Johnny Alf, Baden Powell, virtuose de violão preciso cuja técnica de execução é única. Um grupo de artista, que respirava música por cada poro, bebeu dessa fonte e gerou o núcleo do samba-jazz.
Johnny Alf e suas harmonias dissonantes, ecléticas e jazzísticas é a grande influência para João Donato, Maurício Einhorn, Durval Ferreira, os irmãos Castro Neves, o Tamba Trio, Bossa Três, Milton Banana Trio, Bossa Jazz Trio, Som Três, Tenório Júnior, Walter Wanderley, Eumir Deodato, Sérgio Mendes e Zimbo Trio, que, sozinho ou em conjunto, produziram e nos legaram uma música alegre e com muito swing, fundindo o samba ao Jazz. Não é à toa que a maioria faz imenso sucesso nos Estados Unidos e Europa ainda hoje.
Ao fazer 50 anos, ao contrário de que alguns pensam, a bossa nova contínua viva mais que nunca. Sua força é demonstrada na pujança das carreiras de artistas como Rosa Passos, para muitos o João Gilberto de saias, Ana Caram, Luciana Souza, Kay Lira, Carol Saboya e Bossacucanova que fazem muito sucesso de crítica e público na Europa e principalmente no Japão. É um canto contido, técnico que remete a tranqüilidade, leveza e beleza, mas tendo sempre presente componentes de emoção. Tudo isso é bossa nova. E é muito natural.

*Celijon Ramos, economista e pesquisador musical.
http://soblonicas.blogspot.com