domingo, 17 de maio de 2009

O GENIAL CAPITÃO HERBIE HANCOCK



A propósito do artigo "A Balada do Mar Salgado", que põe em evidência a importância do compositor Herbie Hancock para a cena do jazz, é necessário chover no molhado. O texto é profícuo e permite um passeio por cada música do disco Maiden Voyage, de 1965, revelando a maestria da construção de cada faixa de um disco clássico e de grande destaque na carreira de um dos mais ousados músicos do cenário atual do jazz.
Como todos leitores-ouvinte ressaltaram, Hancock é genial nota por nota que sai de seu piano. E o é também a partir da generosidade de ressaltar a participação envolvente de cada um dos membros do combo. Não há vaidades e cada músico pode desfilar, digo mais uma vez, nota por nota a possibilidade do improviso e assim expor o requinte de sua técnica.
Esse resultado harmônico desejável, no entanto, é difícil de ser atingido no jazz. É aqui que reside o ardil da batuta do músico-lider e demonstra-se a funcionalidade e a virtual genialidade do líder do combo. Um excesso no controle dos membros pode arruinar a fluência rítmica, assim como se torna perigoso permitir a sobressalência desmedida de egos dos músicos. O resultado, nesse caso, geralmente é a destruição do sentido harmônico do grupo. Quando isso ocorre, literalmente, jaz e fim de papo.
Na formação de trio, quarteto ou quinteto como nesse caso, principalmente, é a atitude de saber dosar egos com controle flexível que revela as qualidades do verdadeiro capitão do jazz de que bem falou Érico Cordeiro no seu último post no blog Jazz+Bossa+Mais Baratos Outros ao tratar da obra Maiden Voyage. Fica evidente, ao ouvir-se o disco, que Hancock, além da belíssima e apurada técnica pianística, tem esses predicados que o tornam, no dizer de Érico, um grande capitão. Ali controle e egos estão coadunados a serviço da boa música e o que se vê é um equilíbrio de virtuoses, produzindo um encontro singular e significativo que tornam a obra atemporal. Não poderia deixar de mencionar que os responsáveis por essa performance são os fantásticos músicos Ron Carter (baixo), George Coleman (sax tenro), Tony Williams (bateria) e Freddie Hubbard (trompete). Todos acompanhavam também Miles Davis. O encontro dessa confraria dá a dimensão da dificuldade da tarefa e a relevância dos resultados obtidos por Herbie Hancock. Com tanto talentos assim reunidos nessa gravação, solos e improvisações acontecem a todo o momento. Agora, aos mares marujos! Quer dizer: já ao disco.

3 comentários:

Érico Cordeiro disse...

Ótimo texto, Celi, para um disco que merece todas as honras.
Perceba que hoje, mais de 40 anos de sua gravação, ele permanece atual - se tivesse sido gravado por esses dias, teria o mesmo frescor de brisaa marinha e, em pouco tempo, seria guindado ao status de clássico. Aliás, essa é a palavra que melhor o define: um clássico.
Abraços!

Jarbas Couto e Lima disse...

Querido Celijon!
Parabéns pelo texto e obrigado por mais esse comentário inteligente.
Um abraço!
Jarbas

Celijon Ramos disse...

Queridos Érico e Jarbas, obrigado pelo incentivo. Estive pensando se não seria adequado realizarmos um encontro ( pode-se realizar na casa de qualquer um de nós ) para uma audição de jazz... poderíamos até o convidar o Maninho para tocar aquela guitarra maravilhsa dele. Poderíamos, quem sabe, convidar alguns mais que apreciem o gênero. Pensei, Érico, no João Boueres com que faz um tempão que não converso. Poderíamos fazer uma pauta de audição em comum acordo, ou talvez não seja necessário. O que me dizem, hein?!Indiquem data, tá?