quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

UMA ENTREVISTA COM TÂNIA MARIA

Foto: Fafá Lago
Não há muito que falar quando você dá de cara com seu ídolo. A não ser que você quase congela, o coração dispara e você acha que nada é verdade. Dá um misto de desespero e felicidade, porque não tem como explicar o improvável ou o inesperado. 
Ou melhor, nessa história tudo se explica como você lerá e será também cúmplice na audição de uma boa conversa que tive com ninguém menos que Tânia Maria, a dona de um dos maiores swings do jazz contemporâneo e de uma música alegre e contagiante.
Da entrevista, naturalmente, os amigos terão conhecimento e inteireza do que foi conversado no link abaixo, e, evidentemente, não farei maiores considerações, uma vez que o áudio cumpre bem o papel do registro integral do que se conversou. No entanto, alguns momentos, que não foram gravados, foram inesquecíveis e gostaria de dividir com os leitores.
Tânia mostrou-se surpresa por ter sido descoberta em São Luís. A dona dessa proeza foi Fátima Cristina, produtora musical e minha mulher, a quem devo a realização, a produção do encontro e a oportunidade de entrevistar Tânia Maria, além do fato histórico da primeira apresentação da artista num programa sobre jazz em rádio, o Sexta Jazz de Augusto Pellegrini, como Tânia mesmo revelou no ar.
Fafá soube que a artista estava em São Luís a partir de uma conversa na internet com Wesley, músico e fã da pianista. A partir daquele momento, só sossegou depois que conseguiu agendar a entrevista para as 18h de sexta-feira (28 de janeiro de 2011), no hotel Pestana. Para o sucesso da empreitada concorreu diretamente Vânia Correia, irmã de Tânia que foi a grande responsável por sua vinda a São Luís. É que Tânia atendeu o convite para que a acompanhasse nos quatros dias em que estaria na cidade a trabalho. Seria uma oportunidade de ambas reverem seus familiares e amigos. E assim foi.
Aliás, essa é a primeira coisa que salta aos olhos em Tânia Maria tanto é o carinho que ela dedica a sua tia Rejane e a Israel que vivem em São Luís, além de outros da família. A vinculação à família é tão forte que é fonte que alimenta sua música até mesmo na forma de compor. Isso é compreensível para alguém que teve que se exilar como foi seu caso. Depois de sofrer grandes constrangimentos no Brasil dos anos de ditadura, quando foi presa e deve sua carteira de música rasgada por policiais, Tânia deixou o país que tanto ama e a família, sem dúvida, durante todo esse tempo, foi algo positivo como alimento para a grande pianista. A grandeza dessa relação familiar pode bem ser percebida pelo fato de que, numa situação extrema como foi o auto-exílio, seu pai, que a pianista retrata como um grande “ouvido” musical, incentivou-a a ir para Europa por julgar que seu talento e sua música seriam melhor compreendidos. Ainda por cima vaticinou: “minha filha, sua música só será entendida no Brasil daqui a uns vinte nos...”. Acertou em cheio e a musicista colhe os dividendos de tanto trabalho fora do país, agora, em seus shows no Brasil sempre com grande presença de público.
Após tantos anos vivendo fora do Brasil, surpreende ouvir Tânia falar num português primoroso como se jamais tivesse se afastado de sua terra. Ela nos disse que isso era produto de muita leitura e de muita determinação de quem não aceita ficar longe ou esquecer sua pátria.
Com o tempo voando a descontraída entrevista chega ao fim. É ora de fugir da chuva e muito depressa alcançar os estúdios da FM Universidade, onde Tânia participaria do programa Sexta Jazz que naquela noite teve a produção especialíssima de Fátima Cristina. Mas ainda haveria tempo pra maiores emoções dentro do carro.
Passei a perguntar sobre a carreira internacional de grandes músicos brasileiros como Cláudio Roditi, Raul de Souza, dos quais falou com ternura e das brincadeiras que aprontava como a de mostrar e chupar limão de frente para Roditi, quando o músico estava no palco, para desespero do trompetista. Foi quando ela começou a falar sobre Johnny Alf, da importância que Johnny possui como criador da bossa, em suas palavras. Daí deu a cantarolar inúmeras músicas de Johnny Alf, e revelou como ele foi importante para que ela se tornasse pianista. Concordei e fiz-lhe a observação de que o swing presente em sua música provinha diretamente dele. Tânia concordou e para nossa surpresa começou a cantarolar uma música novinha, linda e ainda não gravada que ela compôs em homenagem ao grande mestre Johnny Alf. Dento do carro, a felicidade, minha e de Fafá, já estava completa e já podíamos chegar aos estúdios do Sexta Jazz para continuar uma noite inesquecível para dois amantes do jazz e em especial da música esplendorosa de Tânia Maria.




7 comentários:

Érico Cordeiro disse...

Maravilha, compadre!
Parabéns a você e à minha intrépida comadre, que fez de tudo prá que vocês marcassem esse gol de placa.
Estou em Pinheiro City e amanhã devo estar por aí não dá para ouvir a entrevista aqui, mas lá em casa eu ouvirei.
Abração a você e à comadre!
E viva Tânia Maria!

Augusto Pellegrini disse...

Celijon, este artigo está esplêndido, tudo muito bem alinhavado. Em poucas palavras você fez um resumo que dá a compreensão exata da artista/pessoa/mulher/personalidade/gente fina que é Tania Maria.
Já estou com o CD com a gravação do programa, às suas ordens para postagem.
Um abraço!

Celijon Ramos disse...

Veleu Érico e Augusto pela força. Espero que a entrevista sirva para que mais gente tenha curiosidade em conhecer a música de Tânia Maria. Augusto, vou te ligar para receber o CD. Podemos fazer uma postagem dupla; aqui no soblonicas e em seu blog. Que tal? Abraços!

julinhoguitarra disse...

Também adorei, mas não consegui ainda baixar na íntegra.

Grande abraço

Celijon Ramos disse...

Olá meu bom Júlio!
Agradeço-lhe a visita. Que legal que tenha gostado da entrevista. Insiste em ouvir porque no meu PC tudo está normal. Espero que já esteja com a saúde reabilitada e possamos logo tratar dos assuntos de nossos shows para deslanchar 2011.
Um abraço!

Jarbas Couto e Lima disse...

Prezado Celijon,
Só hoje pude desfrutar de sua entrevista com Tânia Maria. Fiquei impressionado com o clima familiar. Você conseguiu deixá-la absolutamente à vontade. E ao abrir-se dessa forma, ela demonstra o quanto è gente boa e como estava feliz com o encontro. Parabéns!!!
Ah, o artigo também está ótimo!!!

Celijon Ramos disse...

Valeu,Jarbas.
Tânia Maria atendeu todas as nossas expectativas. Foi muito generosa para conosco. Esperamos ter contribuído para a divulgação de sua obra entre os maranhenses e muitos mais no mundo. Iremos postar também sua participação no programa Sexta Jazz para onde a levamos ao final de nossa entrvista. Eepero que ouça e goste.
Um abração!