sábado, 7 de julho de 2007

“No tênis eu perco até no par ou ímpar”


“No tênis eu perco até no par ou ímpar”

Antes de revelar uma atitude derrotista, essa frase, cunhada por Francisco durante o torneio SISTEC OPEN, ensina-nos muito sobre as virtudes de caráter que em todo momento estão sendo postas em seu limite no jogo de tênis e que deste certamente podemos extrapolar para a vida.
O tênis permite, sem dúvida, identificar e separar os verdadeiros campeões dos que preferem vencer a batalha de um ponto, não se importando tanto se para isso precisaram desconsiderar as regras, ou mesmo se aproveitaram da conveniência destas. Podem até vencer o jogo, mas não ganham a batalha da vida.
Esclareço melhor.
Durante a competição, Francisco teve seu jogo de primeira rodada não disputado por motivo de viagem de Marcelo, seu oponente. Poderia ali lhe ter aplicado o regulamento e vencido o jogo por W x O. Ao contrário disso, preferiu remarcar o jogo por várias vezes, sendo adiado sempre o embate por problemas de agenda.
Pois bem, no último agendamento, Marcelo não pode comparecer mais uma vez por motivos profissionais. Ocorre que os dois teriam que informar à organização do torneio o placar do jogo, considerando que não haveria mais tempo hábil para a realização da partida. Falando de seus celulares, Francisco saca com duas soluções para o problema e interpela Marcelo, sugerindo que poderiam resolver o jogo por meio de sorteio de moeda, ou seja, o cara-e-coroa. Conspiraram os deuses nesse jogo duríssimo e Marcelo revela bombasticamente que não dá para ser no cara-e-coroa porque ele não tinha ali nenhuma moeda. Então, Francisco com sua generosidade “smasha” definitivamente e propõe que o jogo seja resolvido no “par ou ímpar”. Depois de alguns momentos de hesitação, ambos concordam com o tipo de “match point sui-generis”, com a seguinte ressalva: como a disputa dar-se-ia por celular, certificaram-se de que tudo seria feito de forma honesta pelos dois. Fácil! Tudo resolvido!
Marcelo logo preferiu “par”. Ao nosso Francisco, assim, não sobrou alternativa aceitar o “impar”. Francisco então pergunta:
- Marcelo qual o teu palpite?
- Zero. E qual foi o teu?
Francisco responde:
- Eita diabo, perdi! Foi dois. No tênis eu perco até no “par ou impar”.
Pode ser engraçado, mas o episódio revela muito desse espírito campeão. Sempre lhe importou mais a disputa, afinal o torneio foi feito para isso. Vencer por W x O estava fora de cogitação.
Esse moço incorporou realmente o espírito esportivo, o sentido da coisa. Ou seja, do torneio. Muitos de nós nos aferroamos ao regulamento quando este nos traz uma vantagem. E nos sentimos confortáveis, afinal está escrito que quem não comparecer (não cumprir o disposto) perde o jogo e, principalmente, isso é importante se o oponente tiver melhor jogo que o nosso.
Não nos preocupamos com o crescimento propiciado pela disputa de uma partida mesmo que nosso rival tenha jogo mais desenvolvido; nem tampouco com a integração que essas oportunidades permitem, preferindo a frieza do resultado que só na aparência nos é favorável.
Sobretudo, essa disputa nos revela grandes valores que devem ser cultivados não só na quadra, mas em nossas ações do dia-a-dia. O respeito ao outro é fundamental para assegurar a dignidade de nossa existência, que deve ser alicerçada na firmeza de caráter demonstrada pela honestidade incondicional do ato deste rapaz.
Arrisco a dizer que Marcelo venceu o jogo, mas quem marcou os pontos foi Francisco, esse verdadeiro campeão.
Na mesma competição, Francisco ainda teve a oportunidade de aplicar mais dois W x O. Declinando da prerrogativa, jogou todas as partidas que foram vencidas por seus adversários. Aprendeu muitos golpes novos que trarão no futuro a evolução de seu jogo, mas ensinou muito mais com a grandiosidade de seu generoso gesto.

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