sexta-feira, 9 de outubro de 2009

UMA PROSA DE JAZZ COM AUGUSTO PELLEGRINI


augusto pellegrini festejando seu canto
Comemorando a realização do 1º LENÇÓIS JAZZ AND BLUES FESTIVAL, que ocorre no dias 10 e 11 de outubro, em Barreirinhas, no Maranhão, publico abaixo a íntegra da entrevista virtual dada por Augusto Pellegrini (jornalista, cantor de jazz e autor do livro Jazz:das raízes ao pós-bop, publicado pela editora Códex) à jornalista Inara Rodrigues do Caderno Impar de O Imparcial.

Augusto Pellegrini será o apresentador oficial do festival e a programação faremos a divulgação aqui no blog.


Caro Augusto, aqui vão as perguntas. Desde já agradeço a colaboração. Um abraço. Inara Rodrigues.

1- Fale da sua carreira musical. Quando a música entrou na tua vida e como foi esse processo da iniciação musical até hoje?
Eu tenho três carreiras musicais. Uma, a mais natural, é como apreciador, pois foi aí que tudo começou. Ainda adolescente, comecei a me interessar por alguns discos que ouvia na casa de parentes e que diferiam fundamentalmente daquilo que era tocado no rádio, Entre as preciosidades, peças de jazz orquestrado (Benny Goodman, Artie Shaw, Harry James), chorinho (Jacob do Bandolim, Severino Araújo, Luiz Americano), música erudita ou semi-erudita (Chopin, Tchaikovski, Strauss), orquestras (Mantovani, Percy Faith, George Melachrino) e até tangos de Carlos Gardel. Comecei a me aprofundar na coleção e no conhecimento do jazz e logo depois que cheguei em São Luís, em 1982, comecei a fazer o programa Mirante Jazz na Rádio Mirante FM. Como sempre gostei de cantar e era incentivado a fazê-lo, comecei a partir de 2000 a utilizar as nuances e as improvisações do jazz como cantor, tendo me apresentado em diversos bares, restaurantes e teatros de São Luís.

2- E o jazz, sempre te acompanhou nessa trajetória? Fale um pouco dessa experiência com o jazz.
Minha experiência com o jazz é bastante estranha, porque não toco nenhum instrumento mas costumo dizer que tenho "um ouvido de elefante" pois assimilo perfeitamente os sons e as harmonias, e consigo reproduzir vocalmente os elementos do jazz. O jazz faz parte da minha vida como uma contribuição cultural muito importante.
3- Fale do seu programa na rádio. Quando começou, como surgiu a idéia, como é o roteiro, o que toca etc.
O programa Mirante Jazz começou em 1982 e durou até 2004, quando saí da Rádio Mirante e ingressei na Rádio Universidade, onde estou até hoje. A partir de então ele se chama Sexta jazz. A idéia surgiu durante uma feijoada na minha casa, quando um amigo, Armando Le Fosse, encantado com o material que eu possuia sugeriu que devêssemos fazer um programa do gênero. Ele procurou a Rádio Mirante e negociou o programa com eles. Fomos parceiros na emissora até 1985, quando ele foi embora de São Luís, e eu passei a produzir e apresentar sozinho. A idéia é tocar todas as vertentes possíveis, com ênfase para o jazz do século 20 - desde o tradicional até o pós-bop - e de mesclar música com comentários pertinentes (músicos, compositores, curiosidades, etc.).

4 - Como está o movimento jazz em São Luís? Ele está acontecendo? Há espaço? O que falta?
O movimento do jazz em São Luís está melhorando consideravelmante. Hoje em dia o jazz já consegue levar público para as apresentações, diversos músicos se engajaram no estilo e outros músicos estão se engajando. É um processo lento, pois o músico de jazz precisa ouvir muito para entender as minúcias e as particularidades musicais, que não são poucas, a fim de obter o feeling necessário para a sua interpretação. Os espaços para apresentações de jazz estão aumentando timidamente graças a muitos heróis que se dispõem a trabalhar até de graça para que os shows aconteçam. Falta um imcentivo maior de produtores e patrocinadores que possam ver no jazz não apenas uma aventura musical curtida por uns poucos diletantes, mas como um negócio que dê público e retorno financeiro. Falta a coragem dos patrocinadores para venderem um produto classe A.

5 - Quem são suas referências no jazz?
São muitas. Cada época e cada tipo de instrumento tiveram uma contribuição importante no meu comportamento de jazzófilo. Louis Armstrong, Duke Ellington, Charlie Parker, John Coltrane, Dave Brubeck, Chet Baker, Joe Pass, as bandas de swing, e vocalistas como Billie Holiday e Ella Fitzgerald são algumas das minhas referências.

6- Por que o jazz? O que sente ao ouvir e tocar ou cantar jazz?
Porque o jazz embute uma mensagem que extrapola a música. O jazz mexe com o sentimento do artista e do ouvinte devido à liberdade que o artista tem para criar e improvisar. O jazz instrumental se assemelha à voz humana, e o jazz cantado se assemelha ao som dos instrumentos. O jazz permite ao instrumentista ou ao cantor viajar dentro de uma linha harmônica, visitando patamares nunca antes visitados. Dificilmente, por mais que se ensaie, uma apresentação de jazz soará exatamente a mesma coisa, seja ele puramente instrumental ou com a participação de um cantor,

7 - Tem projetos voltados para o jazz?
Tenho músicos e parceiros que sempre foram voltados para o jazz ou que estão despertando para o jazz neste exato instante. São Luís tem músicos de alta qualidade que estão se descobrindo como jazzistas, se interessando pela matéria, pesquisando, ouvindo e educando as suas habilidades no jazz, o que faz com que a gente se anime em pensar projetos futuros que envolvam não somente o jazz convencional mas boa parte dos seus assemelhados, como o blues (de onde tudo começou), a bossa-nova, o rock, o soul e outras manifestações do gênero. Hoje em dia é possível a gente sonhar com projetos de jazz porque estamos cercados de músicos (espero não esquecer de muita gente) como Celson Mendes, Julinho Pinheiro, Fleming, Jayr Torres, Isaias Alves, Miranda Neto, Jeff Soares, Mauro Travincas, Edson Travassos, Milla Camões, Marcelo Bianchinni, Arlindo Pipiu, Jim Howard, Gonzaga de Sousa, Pedro Duarte, Júlio Cesar, Antonio Paiva, Rogério Leitão, Maninho Quadros e de pessoas que batalham pela causa como Celijon Ramos, Ronald Almeida, Érico Cordeiro e Tutuca, que neste exato instante está fazendo das tripas o coração para que a realização do 1º Lençóis Jazz & Blues Festival seja não só possível mas também um sucesso.

4 comentários:

Érico Cordeiro disse...

Caro Compadre,
Valeu mesmo.
Fiquei emocionado do Augusto ter mencionado os nossos nomes na entrevista dele.
E tomara que o festival que ele e o Tutuca estão armando seja maravilhoso, forme público e se repita todos os anos - acho que n´s merecemos um evento desse (o exemplo de Guaramiranga é excelente e por lá já passaral Toots Thieleman e Stanley Jordan).
Abração, "citado"!!!!

Celijon Ramos disse...

É isso Érico. Também estou torcendo para tudo dê certo e que o festival dos Lençóis possa se consolidar como o evento de jazz que o Maranhão já há muito merecia ter.
O Augusto sempre muito generoso. Essa matéria de O Imparcial, para nós que estamos tentando colocar o jazz na agenda da cidade, é muito importante e foi muito bem feita pela Inara Rodrigues. Francília Cutrim, editora do Caderno Impar, tem sido muito receptiva quando solicitamos a divulgação de nossos eventos, e, agora com essa matéria de página inteira, ela se superou.
Sou-lhe muito agredecido por isto que também revela o potencial que o jazz tem por aqui.
Um abraço.

figbatera disse...

Viva o jazz!

São pessoas como vocês que contribuem pra divulgação da arte e para a formação de novos seguidores.

Celijon Ramos disse...

Valeu por tão agradável visita, mestre Fig!
Tenha um bom dia.