sábado, 30 de abril de 2011

A SUMMERTIME DE MILLA CAMÕES

O caminho de uma canção é algo imponderável. Depois que seu compositor a pare sua sorte está lançada. Há canções que de tão belas todos  querem gravar; há aquelas, entretanto, cuja  voz de um determinado canto dela se apropria,  cunhando-lhe uma interpretação definitiva, uma marca. Com isso impõe uma verdadeira muralha e ao mesmo tempo um verdadeiro convite ao suicídio para os demais mortais que por ventura desejar ousar em uma nova gravação.
 Elis Regina é dona de algumas interpretações desse nível, assim como Etta James, Nina Simone, Ella Fitzgerald ou Billie Holiday. Difícil é a arte de recriar gravações clássicas dessas deusas da canção. Geralmente os desafortunados são jogados no limbo do esquecimento ou causam muita chateação a quem resolver ouvir suas malogradas tentativas.
Há ainda aquelas canções que, por ser tão bonitas, são gravadas a granel e de tão executadas ficam quase que insuportável a uma nova audição. Summertime (autores: Dubose Heyward / George Gershwin / Ira Gershwin) está envolvida nessa atmosfera duplamente. Um dos mais conhecidos clássicos do jazz foi imortalizado na interpretação de Billie Holiday, embora eu goste muito da que Ella fez.
Então, é possível uma recriação artística dessas peças já clássicas  e que dão tanto medo? Sim. E, particularmente, tive a oportunidade de estar presente a um desses milagres. E isso só é possível se houver um ambiente de liberdade que permita aos músicos essa ligação, que só pode ser com os deuses, para que se possa ter a reconstrução da música, e aí já passa ser uma nova música. Um sentimento vivido de jazz parece ser o ingrediente necessário a esses verdadeiros saltos de arte. Foi o que conseguiu executar, ontem no Empório Paulista, Milla Camões em conjunto com o trio Arpège. A summertime de Milla tem vida, é alegre, mas também pungente e carregada da melhor influência do ritmo do jazz cubano. Cunhou um novo sentido para a música com cores próprias e novo frescor. O arranjo é do contrabaixista, violoncelista e guitarrista Jeff Soares. Júlio Marins atuou com primazia no contrabaixo e George Gomes nos maravilhou com tanto ritmo na bateria. O Arpège foi impecável. Um momento sedutor e inesquecível que merece ter seu registro mais que urgente. 

7 comentários:

Érico Cordeiro disse...

A Milla é extraordinária! Imagina se ela tivesse nascido nos Estados Unidos, na Era de Ouro do canto!
Estaria ali, rivalizando com as grandes divas da canção, como Carmen McRae, Etta Jones, Betty Carter, Billie, Sarah, Ella...
Voz, sensibilidade, acrisma, bom gosto.
Tomara que o disco saia logo - e na sexta que vem vou fazer o possível para estar no Empório!
Abração, Compadre!

Érico Cordeiro disse...

Errata:
É claro que onde se lê "acrisma" a palavra é carisma!

Rita Cardoso disse...

sim, belo momento...linda interpretação!!!
e belíssimo, sensível e muito bem escrito texto, Celijon!!!
beijos

Milla Camões disse...

Gente, nem tenho palavras para isso... Estou imensamente feliz, serve? Obrigada!

Celijon Ramos disse...

Obrigado pela visita, minha gente.
Érico, você precisava estar lá para ver e ouvir. A música ficou muito bonita e mesmo renasceu com a versão que Milla e o Arpège fizeram.Puro jazz!
Meu bem Rita, você sabe do que estou falando porque foi testemunha desta belezura.
Milla, só posso lhe dar um abraço afetuoso e apertado com direito a beijos nas bochechas por ter me dado tão imenso presente.
Beijos a todos vocês!

Cicero Coelho disse...

celijon,se estamos falando da mesma sumertime acredito q vc esqueceu-se da louca,rouca,linda e triste interpretação da Janis Joplin. Me arrepio sempre q ouço. Infelizmente perdi a sexta no Emporium,acredito não faltara oportunidade p ver a Mila q vc tanto fala e por isso mesmo,deve ser um deleite para bons ouvidos. Parabens a vc e Cris pelo trabalho de divulgaçao q vcs vem fazendo da boa musica.

Celijon Ramos disse...

Claro Cícero, é a mesmíssima. Janis Joplin fez história com sua interpretação blues-rock de summertime que tem seu lugar, de certo, como uma grande interpretação. Quis realçar na minha análise as interpretações de cunho jazzístico e só pro essa razão Joplin ficou de fora. Obrigado pela visita, pelo comentário e volta sempre.
Um abraço!