domingo, 16 de novembro de 2008

DE VIDANÇAS, ETNIAS E PASSOS

A noite de ontem, (14) foi de Vidanças - Etnias em Passos, espetáculo apresentado pela Cia Nour el Shams com produção e direção equilibradas da bailarina Solange Costa, líder da companhia. Para ela, “a idéia desse espetáculo é mostrar as danças étnicas que existem em algumas partes do mundo, através dos movimentos da dança do ventre, que não se descaracterizam, mas se complementam com outros passos de origens diferentes”, explica no release de seu blog http://solcosta.blogspot.com/.
A apresentação ocorreu no Teatro Arthur Azevedo e permitiu, ao público presente, o contato com inúmeras etnias através da arte da dança. Por ali desfilaram as artes flamenca, japonesa, africana, hawaiana, brasileira, africana e o tango argentino em coreografias bem executadas pelas integrantes da trupe. Pôde-se dessa forma relacionar a especificidade de cada cultura que bem foi exercitada nas apresentações dos “duos” e solos das bailarinas com destaques para Kahina Barros, que, no número de dança havaiana, demonstrou apuro técnico. Rigorosamente, seus quadris são soltos. Sara Raquel conseguiu traduzir toda a dramaticidade em jogo de sedução que caracteriza bem o tango argentino e Isadora Franco e Juliana Raide atuando com agilidade, leveza, graciosidade, representaram divinamente a alegria da dança brasileira.
Outro momento significativo foi apresentação da cultura japonesa: os espaços de silêncios característicos da música japonesa foram valorizados pelo uso de cores, realçadas pelas luzes e revelaram muito da forma de ser daquele povo, tão longe de nossa racionalidade ocidental.
Como já de costume, Solange sempre traz bailarinas especiais para seus espetáculos e dessa vez brindou a platéia com presença de Kahina, da Casa de Chá Khan el Khalili, de São Paulo, que atiçou o público não apenas por sua beleza física, mas, sobretudo, por sua primorosa técnica.
Num espetáculo onde o figurino se apóia intensivamente no uso de cores, a iluminação era ponto decisivo para o resultado do espetáculo. Foi precisa, nesse caso, a excelente direção de iluminação que ficou a cargo Eliomar Cardoso. Soube utilizar a luz para realçar a expressividade das bailarinas e com sincronia na alternância de uso de tons de fundo e luzes incidentais laterais que valorizaram a performance no palco, permitindo que espetáculo fluísse leve.
O grande risco que a montagem correu foi, ao apresentar inúmeras culturas de dança, não ter um fio condutor que permitisse um encadeamento lógico para os atos do espetáculo em articulação com o todo. Ficou-se sem uma resposta técnica para essa questão, principalmente, em função do atropelo, ao final do espetáculo, que não permitiu o devido esclarecimento de Solange Costa, mas talvez caiba a reflexão: a de que a cultura do oriente médio está mesmo presente em todos os rincões do planeta e dissemina-se assim noutras culturas. E, desse ponto, a dança do ventre pode então flamencar, tanguear ou abrasileirar-se, ampliando as possibilidades da própria manifestação. A julgar pela reação do público, valeu a pena correr o risco. Pulou-se a fogueira. Que venha o próximo!

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