sexta-feira, 24 de outubro de 2008

OS 50 ANOS DA BOSSA NOVA E A RIBALTA DA NOVA POLÍTICA NO MARANHÃO

Estamos comemorando, em 2008, os 50 anos da Bossa Nova. Sem se configurar num movimento em si, a bossa nova mudou o modo de se fazer música no Brasil e influenciou o mundo afora. Juntaram-se nela o melhor de nosso samba com um tanto do fraseado jazzístico e outras sonoridades mais para gerar uma música com toques de sofisticação e beleza totalmente inéditas por estas terras.
As dissonâncias de seus arranjos, a criação da batida perfeita de violão por João Gilberto, que estava àquela época obcecado em criar uma nova maneira de se expressar com o violão, reinventando desta forma o samba, além da influência da modernidade da música clássica de Villa-Lobos e Debussy, principalmente, sobre Tom Jobim, assim como os temas do apartamento, da praia e do mar, característicos de sua primeira fase e que eram recorrentes nas composições de Vinícius de Moraes, Roberto Menescal em parceria com Ronaldo Bôscoli e Marcos Valle. É desse caldo cultural que emergiu a superação do estilo de música até então vigente: os boleros e os sambas-canções. E haja “dor-de-cotovelo”, os amores desfeitos, (Ninguém me ama, ninguém me quer...), temas preferidos dos compositores da turma do Vilarino. Tudo isso era característico da era do samba-canção, cujas músicas, também de grande beleza, elegiam, não raro, temas de sofrimento, geralmente ambientados em boate, regados a enormes goladas de uísque. A música de boate cedeu espaço dessa forma para o apartamento e o mar. Mudou, por assim dizer, a paisagem da música brasileira, tornando-se mais arejada e diurna. Aquela geração gostava mesmo da luz e da praia e, assim, mandaram vestir os pijamas de uma só vez, Antonio Maria, Fernando Lobo, Dolores Duran, etc.
No entanto, a bossa nova influenciou muito mais na vida social brasileira do que apenas forma de compor canção. Foi e é um verdadeiro sucesso até hoje. Influenciou tanto que tudo que se respirava com ar de moderno na época era tachada de bossa nova, porque era bom ser bossanovista.
Com efeito, é pelos idos dos finais dos anos 1950 que o Brasil apresentava uma maior robustez no avanço de sua incipiente industrialização. No esporte, o escrete canarinho sagra-se campeão mundial na Copa da Suécia e na política segue firme nosso presidente bossa nova, Juscelino Kubitschek, embora musicalmente este preferisse a moda caipira à sofisticação dos arranjos de turma da bossa. Nosso presidente não era, portanto, tão bossa nova assim. No entanto, os investimentos andavam a toda, correndo solto no país, mesmo que sob o signo da emissão inflacionária de moeda. Mas isso é conversa para outra hora. O que importa aqui é que o colosso de Brasília já estava se erguendo sob a batuta de Oscar Niemeyer , Lúcio Costa e Burle Marx e não sei quantos milhares de candangos a emprestar suor e muita disposição física. O Brasil respirava modernidade e quase toda a sociedade avançava.
Eu disse quase. Pois, sempre há alguém para destoar do compasso.
Para o país como todo esses anos significaram crescimento econômico, o reconhecimento da superioridade estética da bossa nova, conquistando o mundo a partir do show do Carnegie Hall, em Nova Iorque, em 1962 e, além disso, a política evoluíra como nunca, corporificada na figura atraente e moderna do presidente bossa nova, Juscelino.
Mas, enquanto se começava a colocar os primeiros concretos da construção da moderna Brasília, no Maranhão, esse estado de efusão criativa jamais se viveu, tanto na música quanto em qualquer segmento da vida social e principalmente na política. Desenvolvimento econômico por aqui? Vivíamos o ocaso do parque de indústrias com base na economia têxtil e o fechamento de inúmeras dessas fábricas já se registrava. Já estávamos nesse tempo em outro bonde da história, procurando nossa turma. Politicamente é que era o duro mesmo.
Estávamos nos anos 50 sob a égide do ranço da batuta do vitorinismo e a única coisa boa que nos legou foi a figura do deputado carioca Luís Fernando Freire, o Lula Freire, filho de Vitorino e autor de belíssimas composições da bossa nova. Seguramente, uns dos grandes nomes do gênero. Tirando isso, foi só sofrimento e judiação para os maranhenses.
Êpa! Eis que surge, na metade da década dos 60, o Novo Maranhão com José Sarney querendo modernizar tudo. Bom, depois de quarenta anos de comando político e algumas parcas realizações importantes, a coisa mais moderna que nos legou foi colocar o Maranhão no ranking como o penúltimo IDH (índice de desenvolvimento humano) do país. O moderno ficou, por assim dizer, por conta da nova nomenclatura que seu deu para pobreza, desemprego, pouca e baixa qualidades da educação, habitação, o escambau e tudo que é mazela que grudou nos maranhenses por toda essa era, como se fosse um verdadeiro encosto. Isso tudo passou a chamar-se abaixo IDH e ficou chique falar. É claro que no meio da confusão deu para algumas poucas famílias endinheirar-se com as coisas do erário. Após o bastão de Sarney praticamente se quebrar, pôs-se mais do mesmo no lugar. E estamos conversados.
Mas a bossa nova parece que não desiste. E, como lobo bobo, ainda quer nos aplicar seu axioma de modernidade de qualquer jeito. É muito alvissareiro que a celebração de seus 50 anos coincidam com disputa eleitoral da prefeitura de São Luís. Eis que no limiar de novos dias já aponta nosso prefeito bossa nova (claro, uma vez esconjurado o velho do atraso). E mesmo que sua eleição não aconteça, já se tem um grande vencedor político que é a esquerda maranhense que se confirma como grupo político capaz de articular de disputar o poder no Estado. A novidade que se configura é a possibilidade real de ruptura política com proposta de esquerda includente, indicando a discussão do novo. Também é a inclusão na cena política maranhense pela porta da frente de novos atores com forte vinculação aos movimentos da sociedade civil organizada, prometendo superar o discurso atrasado e maniqueísta do que se é contra ou a favor de qualquer oligarquia de ocasião. Êpa! Isso é realmente bossa nova. Superar essa falsa questão política é incluir nossa modernização na agenda do dia e redesenhar o mapa político do Estado. O problema é que ser bossa nova também é ser cool e infelizmente ainda tem muita gente, mesmo de esquerda, que torce o nariz para qualquer coisa que suscite leveza e elegância.

3 comentários:

ricarte disse...

excelente Celijon seu artigo.
contextualizar as transformações políticas em diálogo com a música, além de torná-la (a política) mais prazeirosa, você mostra que a bossa é atemporal, como o carequinha. e que ela não está não é na idade, mas no gesto, na atitude, na mensaghem das pessoas. Flávio Dino é sim Bossa Nova, Nós somos Bossa Nova e Chorinhos de alegria. nota dez.
saudações,

Rita Cardoso disse...

meu bem,
adorei o artigo..muito bem construído!!! escreva sempre é muito bom ler-te!!!
beijos e saudades!!

Celijon Ramos disse...

Desculpe-me pelo atraso em agradecer seu comentário. Queria escrever somente sobre a bossa nova, mas foi irresistível pelo momento fazer uma ligação com a política. Até porque na cultura tem política, não!
Grato.